‘toc, toc, toc‘ aquelas três leves batidas na porta de Cassydin significavam muito para a ruiva que agora estava aos prantos, inundando o travesseiro com suas lágrimas negras e deixando seu rosto marcado pelo rímel que escorria.
Naquela manhã a ruiva havia acordado mais cedo para a habitual caminhada. Passou antes no quarto de Lizzie senso capaz de ver esta dormindo como um anjo entre os lençóis dourados e sorriu se sentindo culpada por parte daquilo. Suspirou fechando a porta de leve ouvindo a mesma ranger e mordeu os lábios abafando uma risada. A legging negra, o top com estampa do universo e os tênis de corrida, foi assim que ela deixou o dormitório. O relógio em seu pulso deu início ao cronometro no momento que seus pés tocaram as folhas secas.
Um, dois, três, quarto. Um, dois, três, quatro. O ritmo constante da respiração era calmo enquanto as passadas rápidas avançavam no contorno do enorme jardim daquele acampamento. Cassy se sentia como um pássaro preso por aqueles muros de tijolos envernizados, que continham grande parte esverdeada pela ação do tempo. Seus passos diminuíam aos poucos ao ver aquele pequeno portão negro, com louros dourados entalhados no aço, aberto. Respira fundo uma, duas, e uma terceira vez. Fecha os olhos e balança os ombros levemente, até enfim voltar a correr. A respiração pesada enquanto se aproximava da abertura, deixando os olhos correrem ao redor faziam parte daquele momento de pura adrenalina no corpo da bruxa.
Assim que deixou o portão Cassy se agacha colocando as mãos nos joelhos e respira fundo, no entanto o barulho de um galho partido a fez voltar a si e a caminhar em ritmo acelerado. A rua para fora dos portões era deserta e pouco movimentada, a esquerda uma trilha por entre a escuridão das árvores chamava sua atenção. Quanto mais a fundo da trilha você seguia mais claro ficava o barulho da arrebentação. A bruxa se senta na beira do penhasco e abraça as pernas, deixando as lágrimas correrem por seu rosto pálido. Alguns minutos se passam enquanto as pedras eram jogadas precipício abaixo pela ruiva, até que a mesma se levanta e passa os dedos com cuidado abaixo dos olhos, secando aquelas lágrimas amaldiçoadas pelas trevas da imperfeição.
Sua visão aos poucos ficava turva e você cai uma, duas, três e uma quarta vez enquanto quase se arrastava pela trilha e aquele cheiro forte impregnava suas narinas. Se encostou na árvore e checou o relógio, já faziam noventa e sete minutos desde que deixou a cabana e Lizzie devia estar precisando de você. Com o pensamento focado na irmã você consegue se levantar, Cassy, no entanto a trilha não é tão clara e você se desvia poucos metros. A paisagem cheia de flores e cor, fora trocada por uma escuridão verdejante cercada por árvores, te deixando confusa pela exatidão no padrão das plantas. Aquele líquido quente em que você cai uma quinta vez grudava em seu corpo e só quando limpou o rosto com as costas da mão pode ver que era sangue. Seus lábios se entreabrem e sua mão é levada a eles para abafar aquele grito, no entanto seu rosto fora marcado pela vermelhidão. Um cadáver podia ser visto a alguns metros e aquilo só demonstrava que a dor e o sofrimento um dia iriam acabar.
Aos tropeços você se levanta e volta correndo ao acampamento, no entanto o portão já estava fechado.
“pense Cassy, pense“ você dizia a si mesma enquanto observava tudo a seu redor. Ah sim, escalar seria a única saída.
Seus dedos já doíam quando entrou esbaforida na cabana. O olhar de Lizzie se focou em você quando foi ao chão pedindo explicação. Você apenas fez um sinal de calma com a mão enquanto retomava o ar e a única explicação que Lizzie pode receber foi
Eu apenas estava correndo e caí algumas vezes. No entanto o sangue em seu rosto e roupas a condenava.
Subiu as escadas e tomou um longo banho. A cabeça baixa e os olhos fechados enquanto a água quente escorria por seu corpo desnudo. As mãos se apoiavam na parede e por momentos a testa se encontrava nas costas de suas mãos. As lágrimas rolavam pelo seu rosto vagarosamente enquanto se lembrava dos acontecimentos da manhã, fatos os quais a lembravam dos pais por algum motivo. A água em tom avermelhado rolava ralo a baixo enquanto a garota esfregava a esponja com força em sua pele, para se sentir limpa por completo. Seus cabelos eram massageados com calma enquanto o aroma de maracujá dominava o banheiro, Cassydin realmente amava aquele shampoo. Alguns minutos se passaram até enfim o registro ser fechado e a garota se enrolar na toalha macia.
O quarto estava trancado quando a garota se jogou chorando mais uma vez na cama.
Se controle, ganhe essa batalha dentro de si, seja forte. Lizzie não pode te ver assim Dizia para si mesma. Respira fundo uma, duas, três, quarto e uma quinta vez até se acalmar. Se levanta podendo observar as roupas sobre a cama.
O corpete em tom de branco era abotoado lentamente enquanto as duas mãos da garota escorriam por seu corpo. Seu olhar cabisbaixo evitava ao máximo olhar o reflexo da garota corada no espelho, no entanto a ruiva sorria.
(...)
Cassy suspirou e amarrou os cadarços, deixando a cabana após pegar o iphone e os fones de ouvido e à passos lentos foi se dirigindo ao bosque. Aquele à qual muitas vezes fora convidada a adentrar em seus sonhos.
Foi à baixo de uma árvore que ela se escorou e desceu até se sentar; colocou os fones, deixando as batidas frenéticas de rock ecoarem por sua cabeça, a deixando sem aquele malditos pensamentos. Fecha os olhos e sente a brisa passar por si assim como os dedos de seu irmão que brincavam em seu corpo vez ou outra.
Dá uma leve mordida nos lábios e aumenta o volume dos fones ao máximo, enquanto cantarolava a música da famosa banda Black Sabbath.
Life is too short to be serious.